sábado, 11 de outubro de 2014

Letras ternas



Letras ternas


Fiz das letras, sementes
férteis a querer germinar...

Elas encontram a luz das palavras
sempre que crescem a versar...

Unem-se em verso e prosa
gentis a querer florescer...

Elas desabrocham em cores várias
sempre que podem enternecer...

Anorkinda

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Faíscas


Faíscas


Eu acho que dilato
minhas percepções
como a pupila
que ao colírio 
responde

Eu acho que escuto
em variações
quando a lua desfila
todo seu delírio
e se esconde

Eu acho que digito
minhas alucinações
deixando pistas
em cada verso
galante

Eu acho que explodo
em constelações
como as faíscas
que ao universo
se expandem

Anorkinda


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A pintura da vida



A pintura da vida


De um passado em tons pasteis
lembranças são como vergeis
florescem em coloridos momentos
são como bálsamos e unguentos

Dê uns tons de tinta mais viva
e a imagem bucólica e poética
fará arder a ferida mais emotiva

De grande sensibilidade é a vida
aclamada em expressão estética
estando aos favores do céu, submetida

Dê alguns bons tracejados
àquilo tudo que ficou gravado
e aperfeiçoarás tua obra-de-arte
com o Criador a abençoar-te

Anorkinda


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Te amar é



Te amar é

Como morrer na praia,
ao molhar os pés 
em espuma de mar...

Te amar é
pista que ensaia
ser música em concerto...

Mas é labirinto
de acordes em viés
insalubre à beira-mar...

Te amar é
vista que se espraia
por um horizonte incerto...

Gole de absinto
gerando miragens ao invés
da calmaria em alto-mar...

Anorkinda

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Sentidos afinados



Sentidos afinados

Ao sentir os primeiros
toques do vento,
prelúdios de amor...

Percebi que a sinfonia
começara diferente,
notas de mais alto valor...

Fechei os olhos, 
sintomas de febre...

Ouvido apurado,
a vida esticando de leve

o cordão da afinação...

Anorkinda

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Encontro-me...


Autumn_Fairy_by_KotkaMroku 



Encontro-me...

Caleidoscópio...
Memórias
Histórias
O que sou transmuta-se...
Cruzes
Luzes

O que sou eu?

Microscópico...
Ínfimo
Íntimo
O que sou refuta-me...
Tenso
Denso

Perco-me...

Náufrago...
Decepções
Imperfeições
O que sou transtorna-me...
Soltura
Tontura

O que eu sou?

Cálculo...
Único
Lúbrico
O que sou conforma-se...
Interno
Eterno

Anorkinda








A vida e eu




A vida e eu

A vida é um dia completo
de primavera, sol, calor,
cores e flores...
em seguida, vento, frio,
dores e temores...

Eu sou nuvem, sou nada
diluída na paisagem...
seguida pela aragem,
partículas e ínfimas
lembranças...

Eu sou flutuação, sou fada
imbuída de levezas...
perseguida por belezas,
melífluas e ígneas
danças...

A vida em total afeto
de comunhão com o Criador,
dos céus e mares...
erguida por vontade e brio,
entre véus e luminares...

Anorkinda


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sábado, 1 de março de 2014

À espera da noite




À espera da noite

Gosto muito da gritaria passarinha
que invade em alarde o fim da tarde
ajeitando-se nos ninhos, o dia finda
é preciso achar seu próprio canto
descansar o par de asas ligeiras
é preciso fugir da magia da lua

Gosto das cores e nuances do céu
que prepara o toldo mais escuro
para a apresentação das estrelas
em espetáculo de velhos brilhos
abrindo a festa telúrica da noite
em homenagem à deusa lua

Gosto também de ouvir meu pulso
a estas horas tardinhas, arritmia
em expectativa e frisson de festa
sou amante da fria madrugada
ao encontro dela me arrremesso
sou filha dos raios da lua

Gosto de observar os viventes
recolhendo-se para recuperar
as energias gastas ao sol
é quando aprumo minha visão
objetivo o feitiço poético
é quando me cobrem os véus da lua

Anorkinda


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No meu retrato não vês



No meu retrato não vês

Diverso do que vês no meu retrato
que nem na parede estará
Eu me faço nuvem, ousadia de voar
Isto a lente não captará

Diferente do que aparece naquela foto
que nem ao futuro ficará
Eu me faço árvore, necessidade de enraizar
Isto o foco não definirá

Como arte da natureza, traço
o risco que me definirá
Mas também disto a máquina
de mim, não saberá

Como parte do mundo, marco
o ponto que me formará
Têxtil destino nos franzidos
da vida que me subordinará

Anorkinda


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Tu (do)



Tu(do)

Tu não eras apenas o impulso
a dádiva divina para a mudança

Tu eras o amor manifestado
em corpo jovem, esperança

Tu não eras apenas o susto
o imprevisto plano

Tu eras o amor retemperado
em distância e temperança

Tu não eras apenas o pulso
do passado, engano

Tu eras o amor acariciado
em sutil presença

Tu não eras apenas o urso
de pelúcia da conversa

Tu eras o amor agraciado
em plena festa

Anorkinda

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Na sombra do verso


NA SOMBRA DO VERSO

Preciso do tempo das sombras
sem lua, sem verso, sem medos
Preciso do pio da coruja
acompanhando meus sonhos

Longe do sol, em pleno dia
na rua, na lira, nos olhos
Preciso da voz do amor
cantando minha alma

Preciso do dia de nuvens
sem cruzes, sem rimas, sem dedos
Preciso do rio de lágrimas
limpando meus anseios

Perto do vento, em plena hora
nas luzes, nas palavras, nos lábios
Preciso dos nós do amor
vibrando minha poesia

Anorkinda


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Quimera


Quimera

quero perder a noção 
do escuro da noite
quero da noite
uma estrela
e cobrir-te
com o brilho dela

quero, cheia de emoção
perder a hora do dia
e retirar do dia
um raio
de sol
e tatuar-te
com o brilho dele

inscrevendo o amor
de forma eterna
em teu corpo
belo
e perpetuar-te
num brilho de quimera

Anorkinda

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